segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Da mediocridade alheia

Discutir com preconceituosos, elitistas e reacionários tornou-se um hábito em minha vida recente. Por vezes, discussões assim me esgotavam, minavam minhas forças e fé na humanidade. Porém, desde semana passada, passei a enxergar o lado bom desses atritos. Acho que as pessoas que tem um pingo de inteligencia e amor ao próximo, ao entrarem nessas discussões, devem pensar: posso ter muita coisa ruim na minha vida, mas ainda me resta a capacidade de pensar no próximo, nos mais necessitados e, sobretudo, um cérebro para pensar.

Digo isso porque me envolvi em uma discussão com uma jovem, num perfil de um parente que bradava contra a excelente iniciativa do prefeito Haddad em conceder Bolsa-Família aos estrangeiros da cidade São Paulo.

Obviamente, ao ver a notícia, fui aos comentários elogiá-la. Não demorou e os reacionários vieram e iniciou-se a discussão, que aflorou quando a garota, que o nome eu irei ocultar, começou: "incentivo à vagabundagem, agora o Brasil vai falir de vez". Não me contive...

Após elogiar sua compaixão pelo ser humano, pois a ajuda irá beneficar, principalmente, bolivianos e haitianos que vivem em situação de escravidão na capital, sugeri a ela que tentasse "levar uma vida de vagabundo com 77 reais mensais". Como resposta, recebi um "eu moro nos EUA", sendo que nem perguntei, numa atitude de pura arrogância, mas deixando claro o tipo com o qual eu lidava. E ainda completou: "R$ 77 reais não faz diferença pra uma pessoa, mas multiplica isso pelo Brasil todo pra você ver o gasto que irá continuar quebrando o Brasil...".

Parafraseando Leonardo Sakamoto, "falta amor, mas falta interpretação de texto também", pois a notícia deixava claro que a ajuda seria apenas para a cidade de São Paulo. Não bastasse, nesse intervalo fui chamado de comunista por outro zé ruela. Pra ele, só pedi que estudasse o que é comunismo, primeiramente. E voltei a atenção para a reacionária número 1. Disse à ela que se informasse melhor sobre os indicativos brasileiros, já que ela estava longe e poderia estar desatualizada.

Mas não adiantou... ela continuou. E disse que quem, como ela, estuda e trabalha a vida inteira, não tem ajuda alguma e só ganha um salário miserável, enquanto quem é vagabundo "tem bolsa pra tudo, então é mais fácil ter 10 filhos e ser preso". Quando chegou a esse ponto, vi que não tinha mais jeito e só pedi a ela que estudasse um pouco mais sobre bolsa-família, auxílio-reclusão, políticas sociais e parasse de passar vergonha na internet.

Ela ainda completou mandando eu sacar meu bolsa-família e assistir  a Rede Globo. Eu sorri e fui dormir. Feliz! Feliz por não deixar isso tipo de gente à vontade e por saber que, por mais problemas que eu tenha, me resta amor e um cérebro. E fui dormir, em mais um dia normal no Brasil.


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